sábado, 26 de janeiro de 2013

Gallo

CASCAVEL - Se existe mesmo um céu, um paraíso, um lugar bacana pra gente desopilar depois de passar por esse purgatório aqui, a farra já está rolando solta por lá com a chegada do João Carlos Gallo.

Parceiro dos bons, pessoa das melhores, humorista dos geniais. Gallo era assim. É assim. Espirituoso como poucos, devoto da vida que soube aproveitar com maestria, a seu modo.

Gallo deu-me a satisfação de integrar a equipe do “Telefone Pirata” na última versão, por lá fiquei o quanto a agenda das corridas me permitiu. Agenda de corridas que ele próprio experimentou nos anos 80 e 90, como repórter de pista de praticamente todas as categorias que tinham transmissão de tevê à época - numa dessas, extraiu alguns segundos do já célebre Ayrton Senna.

Qualquer um que tenha desfrutado da divertida convivência com ele terá episódios memoráveis a relatar, bons causos a contar. Que sejam contados e recontados. Abri esse post, aliás, com o propósito de relatar algum episódio desses, talvez aquele envolvendo o saldo de seu rápido papo com Senna. Desisti em poucas linhas. Não tenho esse dom de compartilhar alegria na tristeza.

O Gallo tinha. De sobra.

ATUALIZANDO EM 26 DE JANEIRO, ÀS 16h24:

Fui há pouco me despedir do amigo, um costume que as pessoas têm. Notei que, apesar da dor da perda, havia sorrisos cercando aquele corpo inerte. Sim. Mesmo tristes, as pessoas sorriam. Acho que é coisa para poucos, o Gallo conquistou isso.

Exposto sobre determinada bancada, um mosaico de fotos montado pelo próprio Gallo a tesoura e fita adesiva resumia sua vida bem melhor que qualquer livro que se ousasse escrever. Invariavelmente sorrindo, único jeito que parecia conhecer para viver, lá estava ele em várias eras, maioria dos casos de microfone à mão, ou no estúdio onde desde moleque virou disc-jóquei, e noutros com a esposa e os filhos, e também de chapéu fazendo pose de coronel a bordo de alguma aeronave, e com os colegas e amigos de trabalho, e entrevistando Senna e Piquet, e montado em um burrico, e em várias outras situações que traduziam com simplicidade uma vida de irreverência.

A dado momento, um rapaz interrompeu seu momento de contemplação de boas memórias e veio falar comigo. "Você é o Luciano?", perguntou. À resposta óbvia, reagiu: "Sou o filho do Gallo. Meu pai falava muito de você". Era o Alexandre, a quem eu não conhecia. Gallo me falou muito dele, também, voltou há três anos da Europa, onde morou por vários, para auxiliar no que fosse possível o pai que já apresentava sinais de que a saúde não estava lá tão boa.

E ouvi o simpático rapaz falar não só dos últimos dias de vida do pai, mas também do meu antigo fusquinha, das minhas paródias, das corridas que eu narrava e que ele, Gallo, acompanhava pela tevê. Parecia me conhecer bem pelos relatos que ouviu do pai. Sorri também. O Gallo me deu esse momento de alegria, mais um, mesmo depois de partir. Isso também é para poucos. Gallo era um cara privilegiado.

Hoje, pela última vez na vida, participei de um "Telefone Pirata". Edição especial que a Capital FM preparou em homenagem ao amigo que se vai. Vai ao ar daqui a pouco, às sete da noite, e quem está fora do alcance dos 102,7 pode acompanhar pelo site da emissora.

0 comentários: