quinta-feira, 10 de novembro de 2011

O desabafo do Djalma

O vídeo aí abaixo, que estranhamente está sem o áudio, mostra a volta de Danilo Dirani durante o treino classificatório da Fórmula Truck na etapa da semana passada em Curitiba. Foi a volta que garantiu ao piloto sua terceira pole na categoria – em 2010 ele esteve à frente no grid das etapas do Rio e de Londrina; em 2009, ano de sua estreia na categoria com um Volvo, não foi pole nenhuma vez.

A parte que interessa para o contexto de ora, em se tratando do vídeo, dura 15 segundos, entre os 2min13s e os 2min28s. Houve até quem achasse divertida a comemoração de Djalma Fogaça, dono e chefe da equipe. Djalma, Danilo e toda a equipe haviam vivido, momentos antes, uma carga descomunal de estresse – o piloto cravou a volta mais rápida da primeira fase do treino classificatório e, antes do início da Superpole, que devolve os oito melhores à pista para uma caça à pole partindo da estaca zero, teve sua desclassificação anunciada. Largaria em último.


Falei hoje com Djalma a respeito. Perguntei o que lhe passou pela cabeça quando jogou fones, boné, tudo para longe, quando chutou o tambor de lixo. “Aquilo foi um ‘chupa’ bem grande, do tamanho do mundo”, confirmou o ex-piloto.

O intervalo entre as duas fases da tomada de tempos foi mais longo que o habitual. Isso porque, anunciada a punição a Danilo, o chefe de equipe correu à torre para cobrar explicações dos comissários desportivos. Que puseram-se a analisar a situação e anularam a punição, mantendo o piloto da Ford na disputa pela pole, da qual acabaria saindo vencedor.

“Foi um desabafo, sim, a um comissário que fez uma relação com os carros que, na cabeça dele, tinham excesso de fumaça. O que me chamou a atenção foi que, antes da classificação, ele passou no meu box e ameaçou alguns integrantes da equipe, já avisando que iria desclassificar. Só que, pra mim, ele não falou. Isso porque se diz meu amigo. Amigo nessa situação é a casa do caralho”, definiu Djalma, em palavras ásperas.

A desclassificação de Dirani, anulada momentos depois, deu-se pela alegada emissão de fumaça em excesso, uma análise feita pelos comissários técnicos. É uma regra que vale para durante as corridas, também. “Está claro que podemos fazer fumaça, sim, o que não pode é ter um excesso de fumaça, e isso não tínhamos”, esclarece Djalma. “Quando os comissários desportivos acataram o regulamento, fui perguntar a ele o porquê de ter colocado nosso Truck na lista. Rapidinho, ele falou que não foi ele. Covardia”, queixou-se.

Djalma, em nenhum momento, citou o nome do comissário técnico a quem acusa. Eu não estive em Curitiba – aliás, não vou a uma corrida da Truck desde a etapa de Goiânia, em 2009 –, também não fui atrás de saber quem eram os comissários. E fez questão, embora suspeito para abordar o assunto pela óbvia condição de interessado direto, de elogiar a postura dos comissários desportivos na anulação da desclassificação. “E parabéns aos comissários que estavam na torre, que corrigiram um erro que nem deles era. Voltar atrás em certas ocasiões tem mais mérito que apontar o acerto”, filosofou.

Danilo não só conquistou a pole como ganhou a corrida de domingo, o que definiu como resultado mais importante de sua carreira – e estamos falando de um piloto campeão sul-americano de Fórmula 3 (narrei quatro vitórias dele em 2003, nas rodadas duplas de Londrina e Cascavel) e com passagens pela Fórmula 1 como piloto de testes da BAR. Para a DF Motorsport, o resultado pôs fim a um hiato de cinco anos – a última vitória do time havia acontecido na penúltima etapa de 2006, em Tarumã, com o próprio Djalma ao volante. A parceria do time com Danilo Dirani será mantida. “Só ele está confirmado, pode haver mudanças”, revela o chefe da equipe, que neste ano também é defendida pela gaúcha Cristina Rosito.

Djalma Fogaça é uma das figuras que mais admiro no automobilismo. Tem uma história sólida e digna de um livro e não costuma temperar seu discurso com mimos políticos. Lembro bem da entrevista que ele deu ao pessoal do site Carros e Corridas, essa aqui. Falou o que tinha para falar.

E devo a ele, ainda, a edição uma entrevista que me concedeu uns dois anos atrás para uma revista. Acabou não sendo publicada, a revista.

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