sexta-feira, 2 de julho de 2010

Lágrimas e lágrimas

Quando o Brasil caiu diante da Itália na Copa do Mundo de 28 anos atrás, uma imagem entrou para a história. Produzida por Reginaldo Manente, da Agência O Estado, a foto de um garoto chorando no estádio Sarriá foi estampada em capa inteira, não sei se pela Folha de S.Paulo ou pelo Jornal da Tarde. A foto e um título, e nada mais. Chegamos a discutir esse episódio numa atividade isolada da faculdade.

O choro do tal menino, que poucos anos atrás deu entrevista ao “Fantástico” – uma rápida consulta ao Google seria suficiente para identificá-lo, mas não vem ao caso –, sintetizava, em 1982, o sentimento de uma nação. Hoje, até mesmo pela completa transformação a que os meios foram submetidos, é difícil supor que qualquer peça jornalística traduza com tanta precisão o que pensam os 190 milhões de ocupantes daquele ônibus na África do Sul, depois do favoritismo brasileiro tropeçar na eficiência alaranjada. Só o que se vai buscar é um assassino para o hexacampeonato.

Sinceramente, tenho, há alguns anos, a curiosidade, diria até vontade, de ver uma Copa do Mundo sem a seleção brasileira. Achei que poderia ser essa da África do Sul. Mas o Brasil é uma potência do futebol global, entendam como quiserem, e foi campeão das eliminatórias. A Argentina, coitadinha, fraquinha, fragilzinha, oficialmente secada, só conseguiu a vaga no sufoco. E, anotem, vai ser campeã mundial. E que dizer do Uruguai, então? Os celestes tiveram de se submeter à repescagem para irem ao Mundial. Não teriam a mínima chance. Daqui a pouco, e escrevo antes de seu confronto com Gana, carimbam a vaga na semifinal e vão perder a final para os vizinhos argentinos.

O que percebo é que a vitória da Holanda agora há pouco veio como ducha de água fria para torcedores, jogadores e vários outros “ores” que vocês possam listar. Brasil em campo é sinônimo de supremacia, de vitória, é isso que maioria da mídia planta na cabeça dos cidadãos, e os atletas e dirigentes que representam o Brasil num campeonato desse deixam-se levar pela onda ufanista. Acreditam que camisa ganha jogo, esquecem-se que a camisa da seleção brasileira não tem mais o peso de outrora.

No boteco onde vi quase todos os jogos do Brasil nesta Copa – num deles, contra a Costa do Marfim, eu estava em São Paulo –, era eu o único sereno. Não só por ver antecipada a volta para casa um time que não fez o suficiente para ganhar minha torcida, mas por ter acertado sozinho o placar da partida no bolão, que rendeu uns bem-vindos caraminguás. Afora isso, vi lágrimas contidas, lágrimas escancaradas, murros em paredes, uma bandeirinha do Brasil sendo atirada ao lixo. Ouvi um sem-número de palavrões, também.

Ao apito final, alguns ficaram por lá para o almoço, outros foram tratar da vida. Vida que segue, e que esboça uma volta ao ritmo. Nenhuma lágrima vai ser capa do jornal. Nem um soco, ou um palavrão. É possível que algum pasquim estampe o choro de Robinho. Lágrimas que não mais representam o sentimento de uma nação. A seleção brasileira não perdeu só a Copa. Perdeu, também, o carisma. Faz muito tempo.

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