segunda-feira, 29 de março de 2010

Mestre Armando

O Brasil deu adeus, hoje, a Armando Nogueira. Um mestre das letras.

Muito se escreveu hoje, muito se falou, muito se lamentou sobre o fim da vida do jornalista voador. Muitas vezes li e ouvi sobre "a perda de Armando". Perda? Perda, nada. Foi ganho dos maiores, para o Brasil e para o bom jornalismo, terem convivido com Armando por 83 anos. Seu ciclo chegou ao fim, como os nossos chegarão, o seu e o meu, e não será cedo ou tarde, será no momento reservado.

Registros e literaturas não faltam sobre Armando Nogueira. Falei uma vez com ele, por acaso. Liguei numa sexta à tarde para a Xapuri Comunicação para cobrar a coluna dele, sempre um primor de coluna, que estava atrasada para a edição de domingo, ele próprio atendeu. Com presteza que me surpreendeu. Não imaginava, na minha inocência de então, que alguém do quilate de Armando Nogueira atendesse telefones.

Minha convivência prática com seu trabalho foi essa, diagramar – ou copidescar, na época em que vinha por fax – a coluna dele que meu ex-jornal publicava às quartas e aos domingos. "Na grande área", era o nome. Lia todas com a admiração exigida pela poesia profética, ou pela profecia poética, que emanava das entrelinhas daquelas crônicas.

Afora a competência que o tornou ícone do jornalismo brasileiro, Armando Nogueira era, sim, um poeta do jornalismo. Aqui, por exemplo, cito um entre zilhões de exemplos de seus deliciosos textos.

Os mais novos que eu não ficaram tristes hoje. Não conheceram Armando Nogueira, nem por nome. As faculdades de jornalismo sequer falam de Armando Nogueira. Da academia dos dias de hoje, não vai emergir nenhum novo Armando Nogueira.

Tudo isso é uma grande pena.

domingo, 28 de março de 2010

O resultado da Stock Car

A internet está uma confusão danada no que diz respeito ao resultado da corrida de agora há pouco da Stock Car, em Interlagos.

Para facilitar - ou dificultar, de acordo com o caso -, ponho o resultado extra-oficial que a nova cronometragem da categoria exibia ao final das 27 voltas

Claro que pode haver mudanças decorrentes de eventuais punições a esse ou a aquele piloto.

Stock Car – primeira etapa, 27 voltas
1º) Max Wilson (SP/Eurofarma RC Competições), 48min01s347
2º) Átila Abreu (SP/AMG Motorsport), a 7s101
3º) Flávio “Nonô” Figueiredo (SP/Cosan Mobil Super Racing), a 12s414
4º) Daniel Serra (SP/A. Mattheis-Red Bull Racing), a 26s789
5º) Lico Kaesemodel (PR/RCM Motorsport), a 30s246
6º) Rodrigo Sperafico (PR/RC3-Bassani), a 34s985
7º) Felipe Maluhy (SP/Officer Pro GP), a 39s225
8º) Júlio Campos (PR/JF Racing), a 40s368
9º) Alceu Feldmann (PR/RCM Motorsport), a 41s779
10º) Gustavo Sondermann (SP/AMG Motorsport), a 45s686
11º) Antonio Pizzonia (AM/Hot Car Competições), a 51s302
12º) Thiago Marques (PR/Mico’s Racing), a 52s908
13º) Diego Nunes (SP/RC3-Bassani), a 53s522
14º) Pedro Gomes (SP/Vogel Motorsport), a 55s805
15º) Cacá Bueno (RJ/A. Mattheis-Red Bull Racing), a 1min01s712
16º) Xandinho Negrão (SP/A. Mattheis Motorsport), a 1min03s379
17º) Norberto Gresse (SP/Hot Car Competições), a 1min14s498
18º) Thiago Camilo (SP/Vogel Motorsport), a 1 volta
19º) Christian Fittipaldi (SP/Gramacho Costa Competições), a 1 volta
20º) Ricardo Maurício (SP/Eurofarma RC Competições), a 1 volta
21º) Constantino Júnior (DF/Crystal Racing Team), a 1 volta
22º) Cláudio Ricci (RS/Crystal Racing Team), a 1 volta
23º) Allam Khodair (SP/Blau-Full Time), a 2 voltas
NÃO COMPLETARAM
Ricardo Zonta (PR/RZ Corinthians Motorsport), a 14 voltas
Valdeno Brito (PB/Cosan Mobil Super Racing), a 15 voltas
David Muffato (PR/Itaipava Racing Team), a 17 voltas
Alan Hellmeister (SP/JF Racing), a 20 voltas
Luciano Burti (SP/Itaipava Racing Team), a 20 voltas
William Starostik (SP/Gramacho Costa Competições), a 23 voltas
Antonio Jorge Neto (SP/RZ Corinthians Motorsport), a 24 voltas
Giuliano Losacco (SP/Mico’s Racing), a 24 voltas
Popó Bueno (RJ/A. Mattheis Motorsport), a 26 voltas
Duda Pamplona (RJ/Officer Pro GP), a 26 voltas
Marcos Gomes (SP/Blau-Full Time), a 26 voltas
Melhor volta: C. Bueno, 1min39s122, média de 156,498 km/h

quinta-feira, 25 de março de 2010

O ladrão beijou o asfalto

Não vi nada a respeito nos jornais daqui, o que dá margem a um exagero aqui ou ali, embora os jornais sempre exageram para cá ou para lá, também. Mas a história assim me foi contada ontem por um sujeito a quem dei carona. Por pura frescura, não cabe identificá-lo.

O fato pitoresco é de segunda-feira, meio da tarde, no Alto Alegre, um bairro aqui de Cascavel. Fosse numa cidade grande, eu identificaria como da Zona Oeste, o que não faria a menor diferença. O sujeito em questão voltava para casa numa bicicleta por uma via preferencial, no caso a Rua Cuiabá. Em determinado cruzamento, um acidente, ou incidente, com um motociclista afoito que ensaiou avançar a preferencial. Toque leve, roda dianteira com roda dianteira. O rapaz da moto foi para o chão. O da bicicleta conseguiu firmar um pé no asfalto, não caiu.

Até aí, um incidente normal, desses que acontecem a todo momento à custa dos abusos do trânsito. Mas mal haviam passaram cinco segundos, segundo a narração do meu ilustre caroneiro, para soar a sirene de uma viatura policial que por ali estacionava. E o motoqueiro, que se preparava para levantar do asfalto, foi, digamos, gentilmente convidado por um dos policiais militares a permanecer deitado. Com direito a arma apontada, coisa de cinema brasileiro.

Fato é que ele havia roubado a motocicleta instantes antes, num local a oito quadras de onde caiu. A vítima acionou o telefone de emergência e a dupla de policiais, que estava por perto quando a ocorrência foi comunicada via rádio, rapidamente encontrou o ladrão pelo bairro. Algumas sequências de conversões pelas esquinas do Alto Alegre foram suficientes para o infeliz despistar os PMs. Que estavam à procura de seu rastro quando passaram pelo local do incidente. No momento em que o motoqueiro-ladrão beijou o asfalto, o carro da polícia estava a 60 metros dali.

Ri quando ouvi o relato. Há gente mais azarada que eu. Quisera todos os bandidos fossem azarados assim. Só os bandidos pobres o são.

terça-feira, 23 de março de 2010

Sim, nós temos autódromo. Temos?

Autódromo de Cascavel lotado em evento da F-Truck: imagem do passado

Devo ter um carimbo moral na testa que indica “o cara do autódromo”.

Quando viajo para trabalhar com locução ou prestar serviços jornalísticos nas corridas em outros lugares, sempre há uma penca de colegas e até de desconhecidos que perguntam sobre o autódromo de Cascavel. Aqui na cidade não é muito diferente. No boteco da Iraci, no estacionamento, no aviário do Mirto ou no quiosque de espetinhos do posto, sempre alguém recorre a mim para saber qual será o destino da nossa pista de corridas. O pronome "nossa", neste caso, revela apenas uma conotação geográfica, a pista não é de ninguém que não seus donos.

Lá fora, é compreensível o interesse de entendidos em automobilismo no futuro – negro, diga-se – da nossa praça. A infraestrutura do autódromo de Cascavel é sofrível, rivaliza com os de Fortaleza e Caruaru a condição de pior. A pista, propriamente dita, é a melhor das 14, qualquer um que já pisou por aqui, ou que já acelerou, pode atestar.

Principalmente pelas bandas de cá, são latentes as críticas ao prefeito, a qualquer um que seja prefeito em qualquer época, pela falta de investimento no autódromo. O automobilismo movimenta a economia, gera retorno, aquele papo de sempre. Ah, e mais importante de tudo, Cascavel tem tradição. Por que o prefeito não investe?, perguntam, como que tentando fazerem crer que os cofres públicos estão jorrando dinheiro para algo que vai atender, mais indireta do que diretamente, uma parcela pequena da população.

Em primeiro lugar, o autódromo é propriedade particular, não cabe ao Município investir nada ali. Indo além, dinheiro público para aplicação no esporte tem de ser canalizado a competições de base, formação de atletas, até recreação. Prefeitura nenhuma tem de patrocinar nada, já acho fora de propósito – e me criticam por isso – bancar parte dos times da cidade em competições de rendimento. Aplaudo quando constato iniciativas concretas que oportunizam a prática esportiva à molecada dos bairros, isso sim é papel de um governo eleito.

Ainda que não se assuma, a área de quase 40 alqueires onde está instalado o autódromo, cuja maior parte é protegida pelas leis de preservação ambiental, é motivo de uma especulação imobiliária intensa. A ideia que encontra um pai a cada esquina é a de se dividir a faixa frontal da área, localizada em área industrial e marginando a principal rodovia da região, em coisa de 18 ou 20 terrenos, com frente de 50 metros e fundo de 60 ou 70. Uma solução que contempla a preservação de duas vias de acesso ao autódromo.

Cada terreno desse, juram os ditos entendidos, valeria meio milhão de reais. O suficiente para um faturamento aproximado de R$ 10 milhões, bem mais que o dobro – mais que o triplo, talvez – da quantia pela qual os donos do autódromo, que não escondem a mágoa por não lucrarem nada com a propriedade, topariam vendê-lo a qualquer mortal que apresentasse o dinheiro em assembleia.

É aí que reside o xis da questão. Os donos do autódromo não ganham nada com sua posse. E nem vão ganhar. Autódromo, para dar dinheiro, tem de funcionar. Para funcionar, tem de oferecer o que é necessário à realização de bons eventos, que trazem gente de todos os cantos à cidade, que lotam hoteis, que geram movimento nos postos de combustíveis, nos restaurantes, nos bares e, lógico, nas casas noturnas de entretenimento masculino.

Algum dos dezenas de donos do autódromo de Cascavel – ninguém sabe precisar quantos são – vai investir sob essa linha de raciocínio? Sem chance. E a prefeitura? Menos ainda, mesmo que se retomem os esforços para que todas as cotas sejam doadas ao Município.

Fosse eu um sujeito de visão e de boa conta bancária, compraria o autódromo, promoveria todos os estudos de viabilidade necessários, investiria nas reformas necessárias e faria com que o local me devolvesse os caraminguás investidos. Não tenho dinheiro, muito menos visão empresarial para uma empreitada tão ousada.

É fácil entender o que alego. Há exemplos concretos, inclusive. O autódromo de Curitiba, até 1994, era ainda pior que o de Cascavel. Ficou fechado por um ano e meio, foi completamente remodelado pelo consórcio que o arrendou e, em que pesem os antigos quiproquós trabalhistas que podem pô-lo em leilão, disputa com o de Interlagos a condição de melhor do Brasil.

Concordo que Cascavel mereça mais, mas realidade só há uma. Gostaria de ver por aqui um autódromo com estrutura condizente com os padrões atuais do automobilismo que vejo praticamente todos os fins de semana em alguma pista de corridas do Brasil. Sei que há gente de CEP bem distante que considera, ainda que timidamente, a formulação de uma proposta para compra do local. Em termos práticos, é a única chance do autódromo ressuscitar e suplantar o pensamento provinciano que reina por aqui.

Quanto à tradição cascavelense no automobilismo, para que seja reconhecida em níveis viáveis, que se produza um bom livro a respeito. Eu compro um exemplar, se vier autografado.




Prova da Divisão 4 em Cascavel, ainda nos anos 70: na infraestrutura do autódromo, pouca coisa mudou de lá para cá

domingo, 21 de março de 2010

Luc Bin Laden

Acabo de viver meus minutos de suposto terrorista.

Na esteira do raio-X do aeroporto de Guarulhos, além da mochila contendo o laptop e o ovo de Páscoa com que Pedro Rodrigo e Natália presentearam o Luc Júnior, carrego o recipiente plástico com os mesmos itens de sempre - carteira, aparelho celular, maço de cigarros, isqueiro e as moedas que sempre acabam ficando no bolso.

No momento quase protocolar de reaver os pertences, cumprido o extenuante trecho de dois metros da esteira, o fiscal, ou agente, ou sei lá como se denomina a função dessa gente, intercepta meu isqueiro Bic. Em primeiro momento, porque estou embarcando com dois isqueiros, um deles acabei de encontrar lá fora, onde fui fumar antes do embarque, depois de fazer o moroso check-in da Trip. É a única companhia que opera por aqui e pousa suas aeronaves em Cascavel.

Estranhei a barrada no baile que meu Bic levou do fiscal-agente Marcos. Oras, sempre apresento meu isqueiro à esteira, ou quase sempre, por vezes ele fica no bolso e o detector de metais nada acusa quando o transponho. "O senhor está embarcando com dois isqueiros, senhor", justifica Marcos.

Proponho que devolva meu Bic preto de estimação e fique com o outro menorzinho, o que acabo de encontrar lá fora. "Não, senhor, o senhor não pode embarcar com este isqueiro porque ele mede mais de seis centímetros".

Caceta, Marcos deve ser um burro de marca maior. É só considerar que o Bic branco pequeno que acaba de ganhar espaço no meu bolso, o que estava à espera de adoção na calçada lá de fora, também mede mais de seis centímetros. Talvez tenha cabulado as aulas de matemática para, em seu tempo, treinar a pose de marrento que tenta impor.

E o sujeito que criou a tal lei do isqueiro de seis centímetros é, seguramente, mais burro que Marcos. Se eu resolver botar fogo no avião, consigo fazê-lo tanto com o Bic pequeno quanto com a caixinha de fósforos que trouxe do hotel, sempre trago essas caixinhas de fósforo, elas sempre têm utilidade.

Abusado que penso ser, concordei, desde que ele me ressarcisse os dois reais e cinquenta centavos que paguei no isqueiro. Senão, impus, nada feito. "O senhor pode voltar ao balcão da companhia e despachar seu isqueiro, senhor. Aqui, nós interceptamos e ele não passa". Estranho, já submeti meus isqueiros aos raios-X dos aeroportos de Congonhas, Curitiba, Brasília, Foz do Iguaçu, Cascavel, Recife, Campo Grande, nunca me causaram problemas. Talvez por não haver uma besta quadrada como Marcos nas esteiras. Desisti, a fila está longa pacas.

Meu voo, o 5641 da Trip, deveria decolar às 19h10. A moça do sistema de som, a mesma que recomenda a apresentação de documentos de "indentificação" no ato do embarque, acaba de informar que o pouso da aeronave aqui em Guarulhos está previsto só para as 19h30. Vai atrasar uma hora, essa porcaria.

Vou lá fora fumar de novo. Talvez encontre mais um isqueiro esquecido por algum desavisado. Vou aproveitar e tomar uma cervejinha, também, agora há tempo para isso. Na volta, claro, vou escolher o equipamento de raio-X monitorado por Marcos. Sujeito de extrema competência, um orgulho para o país, merece meu prestígio.

Ayrton


Quando se é moleque, a visão do mundo é diferente. Difícil um moleque qualquer não ter as paredes do quarto ou as laterais do guarda-roupas abarrotada de pôsteres dos músicos, dos esportistas ou dos personagens preferidos. Fui um moleque normal, tendo isso em vista.

Comecei a ter olhos para o automobilismo com 11 anos, foi uma coincidência que já comentei aqui. O galo de briga da época, pelo talento e pela relativa supremacia, era um brasileiro. Ayrton. De quem minha única referência mais próxima, até então, era um calendário com a foto da Lotus da John Player Special, meu pai o havia ganhado de alguém que fornecia cigarros à mercearia da família. Nem sabia o motivo de ter guardado aquilo.

As três primeiras corridas de Fórmula 1 a que assisti foram vencidas por Ayrton. Imola, Monte Carlo, Cidade do México. Na quarta, ele liderava com um pé nas costas quando o motor do carro abriu o bico numa avenida qualquer do Arizona. Na quinta, liderou debaixo de um toró dos diabos até faltarem três voltas para o fim em Montreal. O motor deixou-o a pé de novo. Na seguinte, tomou a liderança de Prost na largada, o capote do Gugelmin suspendeu a corrida, na nova largada seu câmbio quebrou.

Não, aquele sujeito a quem tratavam como campeão do mundo não podia ser um atleta normal. Era um fenômeno, intuí. Passei a admirá-lo de modo até irritante. Os pôsteres do carro vermelho e branco, claro, começaram a aparecer na parede do quarto, e quando ganhei de presente uma moldura com vidro para fazer um quadro de um deles passei a viver um dilema tremendo, até porque maioria dos pôsteres eram impressos em frente e verso, e eu gastava um tempo danado, a cada três ou quatro dias, tirando grampo por grampo da moldura para nela pôr uma foto diferente.

O tempo passou, Ayrton já não vencia com tanta frequência quanto naquele distante contato inicial que tínhamos, ele sem nem imaginar a minha desprezível existência, passei a compreender que o lado positivo daquele esporte que eu admirava mais a cada dia – em grande parte por causa dele – não dependia de um compatriota ser o destaque principal, mas de haver grandes atuações. Ele sabia empreender grandes atuações.

O fim da trajetória de Ayrton coincidiu com o início de uma malograda carreira nas pistas, a minha. Estrearia no kart um mês e meio depois - participei de cinco ou seis corridas que eram bancadas com as economias do meu salário, não tinha o mínimo talento para a coisa, parei. Todos lembram o que faziam ou onde estavam no exato momento em que seu carro explodiu na Tamburello. Eu estava dentro de um carro de corridas. Era abertura do Paranaense de Automobilismo, vi a largada da F-1 pela tevê e fui encarar meu turno na vigia do Fórmula A de um amigo, no parque fechado do autódromo de Curitiba. A festa do sábado tinha me sugado energias e aproveitei para tirar um cochilo naquele cockpit apertado. Ali eu dormia, enquanto Ayrton se despedia.

Ayrton transparecia uma imagem profética. Parecia saber o que lhe reservava o destino com que seu ofício o acolheu. Aquelas imagens dos momentos que antecederam sua última largada falam por si, como o semblante em inúmeras de suas entrevistas. Tinha dele a impressão de um sujeito extremamente introspectivo, que não fazia questão de vender uma imagem alegre. Talvez não fosse um sujeito alegre. Talvez, mais um pobre menino rico. Em posses, em talento, em determinação, em carisma.

Quando Ayrton morreu, eu era jornalista por prática, termo de corredor de faculdade, havia coisa de dois anos, lidava com automobilismo há menos um e meio. Jamais escrevi ou falei, profissionalmente, sobre qualquer vitória sua. Lembro dos cumprimentos que recebi na época pela página especial que escrevi na edição de 3 de maio do jornal para o qual trabalhava. Usei recursos muito simples, mas diferentes para os padrões da casa.

Naquela mesma edição, o colega Miguel Portela, à época editor do noticiário regional – jornal de cidade pequena tem disso –, escreveu e publicou em sua página, como homenagem particular, um artigo intitulado “Senna, Senna, Senna...”. Ilustrou-o com uma caricatura de Senna que eu havia feito tempos antes, a grafite. Foi fotografada em autotraço e, publicada, ficou horrível. Sou metido a caricaturista, também. O original daquela caricatura, em sulfite A4, foi trazido a São Paulo por uma prima minha, Luciana, numa viagem que fez a Cascavel há anos-luz, ela prometeu reproduzir e me devolver. Nunca mais vi, nem a caricatura, nem a Lu.

Da corrida em que despediu-se até a disputa seguinte, em Mônaco, passaram-se duas semanas. Intervalo que, descobri tempos depois, Ayrton aproveitaria para uma viagem a Cascavel, minha cidade. Negociaria lá, com um político e empresário que morreu uns dois anos atrás, a compra de uma propriedade que não sei onde fica, foi isso que alguém me contou, hoje não faço a mínima ideia de quem tenha sido. Não posso me fiar na veracidade dessa suposta tratativa.

Não tive a oportunidade de conhecer Ayrton. Pena. Foi por torcer por vitórias dele nos GPs de Fórmula 1, mais por ser ele um atleta competente do que por ser brasileiro, que acabei me envolvendo com o automobilismo, meio do qual vivo e que ainda consigo admirar. Hoje, se vivo, Ayrton poderia estar no grid da categoria que movimenta Interlagos. Estou em São Paulo para narrar a corrida, e naquele palco que já foi de Ayrton seguramente muitos clichês serão lançados por mim e por todos, motivados claramente pela data que lhe é, na ocasião de agora, de certa forma devotada.

Nunca vi Ayrton, não sei de onde tiro uma pretensa intimidade para tratá-lo pelo prenome. Algo me deixa plenamente à vontade para isso.

É, Ayrton, são poucos os que chegam aos cinquenta com tanto prestígio.

sábado, 20 de março de 2010

Uma quase ressurreição

Não é segredo para ninguém que Ayrton Senna, se vivo, faria 50 anos amanhã. Aliás, não acho errado dizer que chega aos 50 mesmo sem estar neste plano.

Não vejo o aniversário de uma pessoa como notícia, mas a mídia, e isso não é costume só de brasileiro, dá especial importância à data quando envolvem personalidades. Ayrton Senna foi e é, sem dúvida, uma grande personalidade. E, em meio ao vastíssimo destaque dado nos últimos dias sobre o 21 de março de 2010, vários amigos meus escreveram, descreveram, narraram e garimparam muita coisa legal sobre o piloto. Faço questão de reunir algumas aqui.

Flavio Gomes, que sempre explicitou sua posição contrária a manifestações patrióticas, sobretudo na cobertura jornalística, dedicou bom espaço em seu blog, nas últimas semanas, à série “Senna, 50”. Há muita coisa interessante, que merece a reserva de tempo para exame.

Rodrigo Mattar, colega de locução que integra a equipe do SporTV, também aderiu a uma série de posts. Batizada como “Recordando Ayrton”, está em seu blog, o A Mil Por Hora.

Craque em algo que vou definir como jornalismo poético, Américo Teixeira Júnior, em seu Diário Motorsport, conta uma passagem de sua carreira marcada por um gesto de Ayrton.

Téo José, em seu blog no UOL, registra suas impressões de forma simples e direta.

Não escrevi nada sobre Ayrton Senna, minha minúscula homenagem a ele resumiu-se a uma fotinha no meu perfil do Twitter, o @lucmonteiro.

Não tenho o que escrever. Mas vou escrever algo.

Esses moleques

Não há paparazzi aqui em Interlagos. Há no máximo os bons fotógrafos de sempre, já bem habituados ao mundo da velocidade. Mas, se o contexto do evento sugerisse a presença de paparazzi, eles seguramente estariam apinhados em frente ao box de Eric Granado.

Eric, um fedelho de 13 anos, tem motivos de sobra para se apresentar tão sorridente quanto na foto aí do lado, que me foi gentilmente cedida pela Sílvia Linhares, do Retrovisor On Line. Desponta como maior promessa da motovelocidade brasileira. Está por aqui para a disputa da primeira etapa do TNT Superbike, que integra a programação do GT Brasil. Não pilota uma moto com motor de 1.000 cilindradas, como os demais. Está na pista com uma relativamente modesta 125cc, adequada às limitações da pouca idade e moto com que vai atuar nas categorias espanholas onde tem sido destaque absoluto desde 2007.

Nos treinos livres de ontem, Eric surpreendeu. Foi apenas sete segundos mais lento que Bruno Corano, o mais rápido dos inscritos na Superbike. Sete segundos, numa pista de corridas, é uma eternidade, é certo. Mas, apresentada a diferença dos equipamentos, o hiato vira farelo.

Há pouco, no primeiro dos três treinos classificatórios, Eric e sua 125cc ficaram a 6s4 de Doca di Grandi, o mais rápido da manhã. Tem surpreendido. Claro que o menino não vai tomar parte do grid da Superbike, que no evento do fim de semana reúne mais de 50 motos. Tem apenas, e com todas as chancelas das autoridades desportivas, aproveitado a programação para os treinos de sua preparação.

Mesmo para os macacos velhos do automobilismo, o ambiente da motovelocidade desperta bom fascínio. O mestre Lito Cavalcanti, expert no assunto há milênios, não esconde o encanto diante do contato com o TNT Superbike - surpreendentemente uma novidade em seu currículo. E, credenciado pela vasta experiência no esporte a motor, decreta: Eric e Toninho Chiari, outro menino-prodígio das duas rodas, são o grato futuro da motovelocidade brasileira.

Garotada rápida e talentosa, essa.

Senna pra cima de Senna



Da tonelada de coisas que li, vi e ouvi sobre Ayrton Senna nesses dias que antecedem o cinquentenário de seu nascimento, a que mais achei bacana foi essa animação em 3D. Mostra quase todos os veículos de competição que lhe marcaram a carreira - notei falta da Lotus de 1986 e das McLaren de 1989, 1991 e 1992.

O trabalho é de fato perfeito, traz inclusive algumas mensagens subliminares, como no trecho em que Ayrton pilota a Toleman sob chuva, de cenário e condições que sugerem a pista de Monte Carlo, o já mastigado GP de Mônaco de 1984 e a primeira vitória do piloto, no GP português do ano seguinte.

Assisti a esse vídeo de quase quatro minutos agora há pouco, aqui em Interlagos, com o Kaká Ambrósio, com quem dobro a locução das provas do Itaipava GT Brasil. A brincadeira, infame e inevitável, veio dele e de mim ao mesmo tempo, em tom de narração de corrida: "Vem Senna pra cima de Senna, põe por dentro, Senna assume a posição..."

Pincei esse vídeo do blog do Flavio Gomes, que deve ter tirado de outro lugar, também - ele sempre cita as fontes do material que posta.

Gomes, citado por dois dias seguidos aqui no BLuc, pode ficar mal acostumado.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Ronei tapa-buraco

Não que vá mudar a vida de ninguém, mas cheguei hoje à triste conclusão de que faz quase uma semana que não posto nada por aqui. Como ando com a cabeça tão vazia quanto o bolso - só o saco é que anda meio cheio -, não há nada de muito importante a blogar. Penso "que porcaria eu poderia colocar no BLuc?", e a resposta surge-me quando olho à minha direita. Está aqui Ronei Rech.

Hã? Bem, estou em São Paulo. Ronei é de Guarulhos. Conheci-o hoje. Conversamos frequentemente via Twitter, onde ele despacha como @RONEIRECH, e nunca entendi o porquê das maiúsculas, como há quem não entenda as minúsculas do meu @lucmonteiro lá no microblog. O que também não muda nada, mesmo trocando-se maiúsculas por minúsculas.

Ronei é aquele tipo de sujeito apaixonado por automobilismo. Coisa que eu, mesmo, não consigo manter. Está sempre disposto a tudo. No Twitter, puxa papo com todo mundo. E leva atenção de todo mundo. E se mete numas brigas que não são dele, também. Como por exemplo quando o Flavio Gomes estampou um muro de Interlagos com seu Lada e começou a choramingar na internet atrás de patrocínio para o conserto. Foi o Rony quem resolveu, conforme o próprio Gomes conta aqui.

Ronei, intrometido de carteirinha, interceptou ontem uma conversa minha com o parceiro Pedro Rodrigo no Twitter - aliás, fez questão de trabalhar como voluntário no último evento do Pedro Rodrigo, um festival de regularidade para simples mortais com carros de passeio. Eu avisava que desceria em Guarulhos, cidade dele. Abandonou o trabalho para me apanhar em Cumbica e me desovar no autódromo de Interlagos, o destino do fim de semana. Por lá, até batemos a foto aí de cima, Pedro Rodrigo, o mago Dárcio dos Santos, eu, ele, um quarteto de desocupados twitteiros. A bem da verdade, acho é que Ronei queria dar um bico no serviço e usou minha chegada como pretexto.

Sujeito legal, esse Ronei. E prestativo. Serviu até para eu ter algo para comentar hoje aqui.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Nossas modas

Ok, passei quatro dias aqui em São Paulo, convivendo com o inédito - para o meu currículo, inclusive - evento da Fórmula Indy.

Teria um eito de coisas para comentar aqui, opinar, reverenciar mais do que criticar. Mas minhas opiniões são pobres demais para eu ter a pretensão de compartilhá-las com as massas.

Aconteceu muita coisa superlegal por aqui, tanto no pessoal quanto no profissional (desculpa aí, Fausto!), mas estão todas devidamente guardadas na minha lembrança. Ou manifestadas timidamente no Orkut.

E como chegou a hora e ir embora, deixo por aqui apenas uma lembrancinha, mais uma do repertório da dupla Luc & Juli.



Valeu, São Paulo. Sempre bom estar aqui, pelo menos para quem vem de quando em vez, como eu. Na quinta ou na sexta, estou de volta.

sábado, 13 de março de 2010

Os problemas de uma estreia

Como é no Brasil, não chega a surpreender. Como tudo foi feito a toque de caixa, quase na base "faz primeiro, pensa depois", porque nem havia tempo para outra postura, não chega a surpreender. Como andei de carro por uma parte da pista e percebi que o traçado parecia um tobogã, não chega a surpreender. Como todo mundo já tinha falado, não chega a surpreender.

Agora, quem falou tem mais voz no meio do que os jornalistas que leio. Foi Tony Kanaan quem, por iniciativa previamente alinhavada por seu assessor de imprensa, o polivalente Anderson Marsili, tomou o rumo da sala de imprensa da São Paulo Indy 300 para manifestar suas impressões sobre a pista.

O discurso mudou. Dos sorrisos, piadinhas e elogios, Kanaan passou às críticas. Foi só quem escutei até agora, outros devem estar dizendo o mesmo lá no pavilhão reservado ao serviço das equipes da Indy. A pista é ruim, é a conclusão.

Primeiro, as ondulações, problema mais óbvio - até porque, justiça seja feita, não há pista de rua no mundo sem ondulações em nível excessivo para os padrões do automobilismo. Kanaan tratou de tentar isentar autarquias da Prefeitura, parceira do evento, e a Rede Bandeirantes, promotora, pelo problema. "A Dersa não tem culpa, a Band também não. O responsável é Tony Cotman", decretou, citando o engenheiro neozelandês que projetou essa e praticamente todas as outras pistas de rua que a Indy utiliza. "Avisado ele foi, mas ele disse que é assim mesmo", esbravejou o baiano campeão de 2004. "Ele deveria dar uma volta na pista para ver como ficou ruim".

A reta do Sambódromo, reservada para formação do grid e para a largada da corrida de amanhã, teve aval de Kanaan às críticas que um sem-número de internautas manifestaram nas redes sociais enquanto a Band transmitia ao vivo o primeiro treino livre, momentos atrás. Os carros escorregam muito, chega a ser perigoso. "Ninguém acelerou tudo ali", revelou o brasileiro aos jornalistas que se apinham por aqui, onde chegou também a informação de que os pilotos pediram à direção de prova para que a largada aconteça na Reta dos Bandeirantes, na Marginal Tietê, e não na passarela do samba. "Se falassem hoje que não há nada a fazer quanto às ondulações, mas que vão dar um jeito no sambódromo, eu ficaria muito contente", foi o que declarou Kanaan.

Mês passado, entrevistei Fernando Julianelli, da organização do evento, para uma matéria que saiu publicada na revista Racing. Faltava uma semana para o Carnaval. Ele me disse, à época, que passados os desfiles das escolas de samba campeãs o piso do sambódromo, que é concreto, teria a pintura raspada para aplicação de uma resina capaz de conferir ao piso um grau de porosidade propício à boa tração dos carros. A impressão é de que os resultados não foram os esperados. Hoje, ainda não fui atrás de ninguém da organização para saber do assunto.

Enfim, começou tumultuada a etapa inédita da Indy no Brasil. É claro que muita coisa precisa sair aquém do esperado, para que as próximas edições apresentem as soluções para estes problemas. Toda primeira experiência é assim, não seria diferente aqui.

É claro que o BLuc, coitadinho, não pode e nem deve ser tomado como referência para que se tirem conclusões ou se formem opiniões a respeito do assunto. Para isso, há gente bem mais tarimbada aqui. Se interessar, aconselho, por mera ordem alfabética, a leitura dos sites Grande Prêmio, que está aqui com Victor Martins, Evelyn Guimarães e Bruno Terena, e Tazio, que marca presença no Anhembi com Fábio Seixas, Bruno Vicaria, Natali Chiconi e Fábio Oliveira.

Essa galera vai ter muito o que relatar até amanhã à noite.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Nossas modas

Para os visitantes do BLuc, mais uma do primeiro show de Luc & Juli, aquele de pouco mais de um mês atrás no Square Bar. Desta vez, com "Borboletas".



Já está na hora de a gente fazer mais um showzinho. Voltando de viagem, vou providenciar isso.

Ares animadores na Fórmula 3

Zanzando aqui pelos corredores do Anhembi, durante a preparação das equipes para a etapa brasileira da Fórmula Indy, o que mais me chamou atenção foi algo referente ao Sul-Americano de Fórmula 3.

Gosto de bater papo e parei pra bater papo com piloto que está trabalhando para correr na F-3 em 2010. Que já tem a situação praticamente definida, faltando alguns detalhes, a escolha da equipe, o preto no branco, aquela coisa de sempre. Sua opção pela F-3 me surpreendeu, e a justificativa veio e bate-pronto: "Está muito barato".

É claro que a constatação manifestada prolongou a conversa. Sem chancela oficial - o povo do automobilismo daqui adora definir tudo como oficial; é Twitter oficial, blog oficial, narrador oficial, brinde oficial, cerveja oficial... -, disse-me a provável estrela do Sul-Americano que uma temporada completa na classe principal vai custar R$ 500 mil. Considere-se o calendário estimado em 25 corridas, já que haverá sete rodadas triplas no Brasil e duas duplas no Uruguai e na Argentina. A média óbvia de R$ 20 mil por corrida seria impensável para os padrões financeiros estratosféricos praticados até poucos anos atrás.

Vão para o promotor Dilson Motta, da 63 MKT, os créditos pela viabilização da categoria a um sem-número de pilotos. Na classe Light, conforme confidenciou a mesma figura com quem troquei boas palavras, o custo da temporada completa, para a mesma quantidade de corridas, será de R$ 200 mil. As comparações são inevitáveis - fala-se em R$ 400 mil por uma temporada na nova Copa Montana ou R$ 1,5 milhão na Stock Car, por exemplo.

Aí alguém pergunta "mas o cara está na Indy e vai furunfar sobre F-3?". Não é demais lembrar, por exemplo, que seis dos sete pilotos brasileiros que vão participar da São Paulo Indy 300 tiveram passagens pela categoria. Tony Kanaan, por acasos atribuídos ao destino, é a exceção da lista.

Fiquei contente, pela perspectiva de uma pessoa amiga entrar na Fórmula 3 - no caso, voltar para lá - e porque o campeonato deste ano vai ser bom, com muita gente na pista.

Será que vai ter algum carro com o escudo do Corinthians?

quinta-feira, 11 de março de 2010

A outra Indy no Brasil

A São Paulo Indy 300, aqui no Anhembi, proporciona reencontros, também. E, batendo papo sobre uma turra de coisas que estão de alguma forma ligadas ao evento, lembrei de um textinho que escrevi dia desses e que acabei incluindo em um material já publicado pela revista Racing.

Reproduzo aqui, torcendo para Venício Zambeli e Rafael Munhoz não me pedirem a cabeça lá na editora.

Há 14 anos, a largada para a história da Indy no Brasil

André Ribeiro é o único brasileiro na lista quíntupla de pilotos que revezaram as vitórias no evento da Cart em Jacarepaguá

Luciano Monteiro

Corrida de Fórmula Indy no Brasil pode soar como assunto antigo a muitos pares de ouvidos. Afinal, de 1996 a 2000, o país recebeu cinco provas da Fórmula Cart, à época tratada como Indy por muitos espectadores e até profissionais do meio automobilístico. A primeira edição da prova num oval incorporado ao autódromo de Jacarepaguá aconteceu em 17 de março de 1996. André Ribeiro venceu e levou a torcida ao delírio. Sete pilotos do Brasil completaram a prova na zona de pontos, restrita aos 12 primeiros colocados.

O treino classificatório para a prova de 1997 deu à torcida a impressão de que o domínio caseiro seria mantido. Foi só impressão. Maurício Gugelmin e Roberto Pupo Moreno – que substituía o acidentado Christian Fittipaldi – nacionalizaram a primeira fila do grid. Os dois bateram e abandonaram e a vitória foi de Paul Tracy, da Penske, sua terceira consecutiva no campeonato que acabaria sendo conquistado por Alessandro Zanardi. Raul Boesel, em quinto, foi o melhor brasileiro. Além dele, o país só marcou pontos com Gil de Ferran, em 11º.

A prova de 1998 teve resultados ainda mais esquálidos para os brasileiros, apesar de três deles terem largado entre os cinco primeiros. De todos os brasileiros, só quem se manteve na pista até o final foi Gugelmin, nono colocado. O domínio em quase toda a corrida foi de Zanardi. Quase. Nas voltas finais, enquanto via-se às voltas com o retardatário Arnd Meier, Greg Moore tomou-lhe a liderança em definitivo com uma ultrapassagem que arrancou sonoros aplausos da torcida. Dos 28 pilotos que largaram, 13 abandonaram.

A Rio 200 de 1999 teve um momento histórico. A tradicional ordem “senhores, acionem seus motores” foi dada ao vivo pelos cosmonautas russos que orbitavam a Terra tripulando a estação espacial MIR. O áudio transmitido também pelo sistema de som do autódromo levou ao delírio o público presente a Jacarepaguá, onde o clima já era mais do que festivo. Christian Fittipaldi largava da pole, mas terminou a corrida em terceiro. Juan Pablo Montoya, que conquistaria o título daquele ano, foi ao degrau mais alto do pódio.

Em 2000, a bandeirada da vitória foi dada ao mexicano Fernandez. Cristiano da Matta, quarto, foi o brasileiro melhor colocado. A corrida acabou sendo a última da categoria no oval batizado com o nome de Emerson Fittipaldi. Disso não se sabia enquanto Fernandez estourava o champanhe no pódio. E coube ao então prefeito César Maia dar cabo à história do Rio na categoria, alegando gasto excessivo com o evento. Não foi seu último e nem seu pior ato no processo que sepultou a Cidade Maravilhosa para o mundo das corridas de carros.

Um bem-bolado

Mês passado, os bolões comercializados pelas casas lotéricas ganharam destaque na mídia e nas mesas de bar – sempre elas, as mesas de bar. O motivo, todos lembram, a presepada da Esquina da Sorte, de Novo Hamburgo, que vendeu e não registrou um bolão da Mega Sena, cujos números acabaram sorteados na extração de mais de R$ 50 milhões, que ficou acumulada. E vai rolar um quiproquó dos diabos na Justiça por conta disso.

A Caixa Econômica, claro, tirou o seu da reta, com o perdão pelo termo chulo. Apregoou que não autoriza a venda dos bolões – embora em nenhum momento tenha manifestado a proibição da prática – e garganteou uma inenarrável ação de fiscalização e advertência às conveniadas adeptas dos bolões. Que são oferecidos aos clientes desde sempre, e quem utiliza casas lotéricas para apostas ou serviços bancários sabe disso.

As posições manifestadas pela Caixa são mesmo puro jogo de cena, visto que os bolões seguem disponíveis, e devidamente oferecidos pelos atendentes, em todas as casas lotéricas. A título de mero exemplo, basta observar a mensagem posicionada entre as mãos da modelo no painel aí abaixo, encomendado por um estabelecimento do ramo, que anuncia um catatau de serviços e opções de jogos da Caixa.

Nada contra, nem a favor, muito pelo contrário. Até hoje, só participei de um bolão, numa Mega milionária, faz anos, quem organizou foi o Guinho Biberg. E esse não deixa de registrar as apostas por nada.

Eu acho.

quarta-feira, 10 de março de 2010

João Pedro

Essas coisas que acontecem a toda hora ganham impacto e passam a impressionar a partir do momento em que acontecem perto de nós. Experimentei ontem à tarde uma sensação horrível. Vi uma criança ser atropelada.

Eram 18h05, eu dirigia para casa para pegar Juli e Luc Júnior, iríamos – fomos, na verdade, com o devido atraso – ao Pantanero Bar gravar uma matéria com a equipe da TV FAG, a dupla musical Luc & Juli era a pauta. Quem conhece Cascavel sabe que a Pio XII é uma das ruas mais movimentadas da cidade em fins de tarde.

Quando ouvi arrastarem no asfalto os pneus do Astra que havia acabado de passar por mim em sentido contrário, procurei no retrovisor, como que por reflexo, e vi a imagem do menino de 10 anos a coisa de um metro de altura, o que de imediato me demoveu da impressão de colisão entre dois carros que tive com o barulho do impacto.

O menino caiu no asfalto de joelhos. Sentindo as cores do acidente e o medo que o vaivém de carros lhe teria de causar, engatinhou para perto da calçada. Parei o carro a uns 80 metros do acidente e me vi ao lado dele. João Pedro, seu nome. Voltava da escola, mochila nas costas. Só olhou para um lado da rua, coisa de criança.

Menino de sorte, João Pedro. Por ali, além de mim e de mais algumas dezenas de pessoas que passavam pelo local, um médico que voltava para casa, não lembro a especialização clínica com que se apresentou, e um soldado do Corpo de Bombeiros que por ali passava em seu exercício vespertino. Até a chegada da ambulância do Siate, foram eles quem cuidaram de João Pedro.

Menino sereno, João Pedro. Deitado no asfalto, e acomodamos sua cabeça sobre a própria mochila, preocupou-se em saber se havia estragado o carro da moça. Sim, a moça, é verdade, havia a moça, que àquela altura usava o telefone público para comunicar o fato a alguém. Não sabia, João Pedro, dizer um número de telefone, mas guiou-nos com detalhes à página de sua agenda escolar onde estavam os contatos da mãe e do padrasto. Pediu que avisássemos a mãe, cujo celular estava desligado. O do padrasto também estava.

As presenças do médico e do bombeiro e a chegada dos socorristas do Siate denotavam que não tínhamos, nem eu e nem maioria dos curiosos que por ali pararam, mais nada a fazer a não ser orar. Fui embora, cheguei em casa tremendo. Aquele menino poderia ter morrido. Forças divinas quiseram que permanecesse vivo, consciente, sereno.

Há pouco, falei por telefone com Luiz Augusto, o padrasto. Conversa rápida e truncada pelo sinal ruim da ligação, mas suficiente para eu saber que João Pedro passa bem. Luiz contou que o garoto seria levado agora cedo para alguns exames, queixava-se de dores. Tive a impressão de que nem hospitalizado está, o que seria boa notícia.

Nada de morbidez, até porque João Pedro está bem, mas baques como o que vivi ontem, diante de seu drama, chegam a fazer bem quando se está experimentando tantas coisas positivas na vida. Põem a refletir.

Viajo amanhã cedo a São Paulo. Na volta, vou visitar João Pedro.

terça-feira, 9 de março de 2010

Vai um bonezinho do WTCC aí?

No último fim de semana, estive em Curitiba para a locução de arena das provas que deram início à temporada 2010 do Mundial FIA WTCC e também do Porsche GT3 Cup. Não sou nome forte de nenhum dos eventos, motivo pelo qual ninguém me aporrinhou pedindo credenciais, como têm feito nos últimos dias com os pilotos da Indy que vão correr domingo nas ruas de São Paulo.

O que não para de chegar, até agora, é pedido de boné do evento. E consegui salvar um, unzinho, boné oficial da etapa brasileira do WTCC em 2010. Como não dá para agradar a todos, ponho-o em disputa pelos leitores que me seguem no Twitter pelo perfil @lucmonteiro.

A rodada dupla do WTCC no último domingo foi a quinta da categoria no Brasil – todas, é sabido, aconteceram no autódromo curitibano. O boné vai para quem responder primeiro, lá no Twitter, à seguinte pergunta: quantos e quais países já tiveram pilotos vencendo corridas do WTCC em Curitiba?

Vale lembrar que o resultado da brincadeira considera, também, a categoria das equipes independentes. Como dicas esquálidas, nenhuma rodada dupla em Curitiba teve o mesmo piloto vencendo as duas corridas de uma rodada na classificação absoluta, façanha que pilotos diferentes cumpriram em três edições pelo Troféu Independente.

A primeira resposta correta endereçada a @lucmonteiro valerá o boné a seu autor.

Ah, claro. Para ser validada, a resposta tem de ser enviada por um seguidor do meu perfil no Twitter e estar acompanhada da hashtag #WTCC2010.

Como diria um conhecido, 'bora pesquisar?

(ATUALIZANDO EM 9 DE MARÇO, ÀS 15h31)
O boné do WTCC 2010 vai para o portoalegrense Eduardo Tomedi, que respondeu corretamente. Foram oito países. Na classe principal, os vencedores foram: 2006 - Jordi Gené (Espanha) e Andy Priaulx (Inglaterra); 2007 - Jörg Müller (Alemanha) e Augusto Farfus (Brasil); 2008, 2009 e 2010 - Yvan Muller (França) e Gabriele Tarquini (Itália). Na categoria das equipes independentes, os vencedores foram: 2006 - Ryan Sharp (Inglaterra) e Tom Coronel (Holanda); 2007 - Pierre-Yves Courthals (Bélgica) e Luca Rangoni (Itália); 2008 - Olivier Tielemans (Holanda), nas duas provas; 2009 - Félix Porteiro (Espanha), também em dose dupla; 2010 - Sergio Hernandez (Espanha), igualmente nas duas disputas.

sexta-feira, 5 de março de 2010

Novidade na pista

Se é novidade, não sei. Para mim, pelo menos. Quem confirma é José Cordova, nos boxes do FIA WTCC aqui no autódromo de Curitiba.

A lacuna deixada no automobilismo brasileiro com o fim da Copa Clio pode ser preenchida ainda em 2010 por uma categoria monomarca apoiada pela Mercedes-Benz. A marca alemã tinha planos de estar na pista no ano que vem. Partiram da Associação de Pilotos as gestões para que a estreia a nova série fosse antecipada.

O carro em questão é o C200, cujo motor, em configuração original, desenvolve potência de 185 cavalos. Com o kit que se deverá importar da Europa, confidencia Cordova, essa potência chegará com facilidade aos 250 cavalos.

Quando e se sair do papel, sempre tendo Cordova como fonte, a categoria da Mercedes-Benz deverá acompanhar os eventos do GT Brasil, que já conta, para este ano, com o grid das categorias GTBR3 e GTBR4 e também com a TNT Superbike. Pode ser uma boa.

Cordova, que sempre merece créditos especiais, acompanha a etapa brasileira do FIA WTCC como integrante da equipe oficial da Chevrolet. Tem contato com o dono da equipe desde os tempos em que corria na Europa, entre fim da década de 80 e início dos anos 90. É um sabe-tudo no assunto, sem dúvida.

quarta-feira, 3 de março de 2010

O bar da Mateus Leme

Passaram-se alguns meses sabáticos, se é que a expressão está correta, para a minha atuação no automobilismo. Mas 2010 começa agora, e no meu caso não deverá ter intervalo para a Copa do Mundo. E começa com viagem à agradabilíssima Curitiba, onde o fim de semana reserva as corridas que abrem as temporadas do WTCC, Mundial de Carros de Turismo da FIA, e do Porsche GT3 Cup Challenge.

Voltar a atuar no automobilismo é gratificante. Não só para a conta bancária, sempre carente, mas também para o espírito. Rever os amigos, as máquinas, retomar o ritmo, fazer contatos, tudo aquilo que um fim de semana de autódromo proporciona.

Mas voltar a Curitiba me deixa feliz por outro motivo, implícito nas tantas coisas atrativas que essa cidade tem. Um bar. Claro, para quem sabe qualquer ponta a respeito de mim não é segredo nenhum que sou afeito a estar em um bar. Mas não se trata de um bar. Esse é O bar, assim mesmo, com artigo em maiúscula, como usam no Messenger, no Twitter, no Orkut e em outros meios menos nobres.

Não sei o nome do bar, lá estive em apenas uma única ocasião, era 30 de maio do ano passado, e lembro a data por ser véspera de uma corrida em que atuei. Só lembro que é na rua Mateus Leme. Com um pouco mais de sorte, arrisco que a milhar do número que compõe o endereço termina com 91.

Ano passado, integrei uma turma animada na vista ao tal bar. Lá atuaria o Marcos, amigo do amigo de um amigo, fazendo sua palinha com gaita de boca num conjunto, acho que o termo "banda" é inapropriado, que executou um cativante repertório de country americano. Som de primeiríssima qualidade.

No bar, havia um rapaz, a quem apelidamos de Tony Kanaan pela semelhança física com o piloto de Fórmula Indy com quem converso na foto aí ao lado. "Tony", a determinada altura, matou seu caneco de chope num gole só, levantou e assumiu o microfone do conjunto. E deu show. Cantava muito, seu repertório era baseado em rock'n roll, cantava coisas do gênero Kiss, Guns'n Roses, algo assim. Mandou bem no country, também.

Encerrado o show, e terminou relativamente cedo, por volta das dez e meia da noite, "Tony Kanaan" e sua turma tomaram o rumo do recinto anexo onde estávamos minha turma e eu. Papo vai, papo vem, reverências de praxe, coisas do tipo "você canta pra cacete" e aquelas coisas a que a carga de uns chopes nos submete. Um dos parceiros de "Tony" tinha visual rebelde, jaquetão de couro, cabelos compridos, barba por fazer. Andava com os braços arqueados. Não tive dúvidas: "Velho, você é sertanejão", disparei a ele, já prevendo a confusão que poderia arranjar. Ele puxou a cadeira, sentou ao meu lado e rebateu: "Qual nós vamos mandar?".

Cantamos, cabeludo e eu, uns vinte minutos de modões sertanejos, à mesa, degustando devidamente nossos canecos. "Tony", que já tinha feito um verdadeiro show no palco cantando rock e country, só observava. Até que não se conteve. Puxou a cadeira também, interrompeu-nos e intimou "quem vem nessa?" - começou a cantar "Som de Cristal", um clássico dos modões sertanejos. Com maestria, parecia cantor de modão desde as fraldas.

Noite animada, aquela. Claro, convidamos "Tony" e sua trupe para comparecerem ao autódromo domingo. Claro que aceitaram o convite. E, claro, não deram as caras. Talvez estivessem cantando e tocando rock, country e sertanejão noutra freguesia.

Enfim, amanhã à noite chego a Curitiba. Na sexta, já avisei e convidei alguns amigos que por lá estarão, vou procurar o bar da Mateus Leme. Falei tanto do tal bar para minha esposa desde aquela visita que faço questão de levá-la para conhecer o lugar - sim, Juli se comportou bem, fez as lições de casa e, como prêmio, vai me acompanhar em um fim de semana de automobilismo - e, quem sabe, alguns chopes.

Tomara que "Tony Kanaan" esteja por lá. O cara é bom.